segunda-feira, 31 de maio de 2010

Video aula de guitarra - aprendendo a solar


Aprenda a solar e entenda o que está tocando - 4 horas de duração

Esta é a proposta dessa video aula feita por Marcos Duprá algo nunca visto antes no mercado.


Ela está dividida em 2 partes:


Parte 1 - Técnica geral - Onde você aprenderá como executar de maneira correta: bends, hammer-on, pull-offs, slides, trinado, harmônicos, tremolo, exercícios psicomotores, etc...


Parte 2 - Improvisação - A partir daqui você aprenderá a escala pentatônica, padrões de escala, licks, mudanças de desenho, solos explicando o que foi aprendido além de aprender os solos de músicas como: Let it be, Patience, Back in black, The wall, Paranoid, etc....


Frete Grátis pra todo o Brasil



Apenas 40 reais já incluso o frete!!













terça-feira, 23 de março de 2010

Video aula cavaquinho

Compre 2 dvds e ganhe um desconto de 10 reais, de 75,00 reais              por 65,00 reais
























Dvd Cavaquinho Iniciante:


São 17 aulas que abrangem o aprendizado de cavaquinho básico. São videos bem detalhados pra que o aluno consiga realmente desenvolver.

Durante essa video aula você irá aprender:

Anatomia do instrumento
Afinação
Palhetada
Batidas
Acordes
Solos



















Dvd Cavaquinho Intermediário:

São 24 aulas onde o aluno irá se aprofundar no seu conhecimento sobre cavaquinho.

Durante essa video aula vocêr irá aprender:

acordes dissonantes
sequências harmônicas,
floreados
batidas

Todas as aulas com músicas exemplificando o que foi aprendido..

Os valores dos Dvds são:


Dvd Cavaquinho Iniciante - 30,00 reais
Dvd Cavaquinho Intermediário - 40,00 reais
Correios - 5,00 reais

Valor Total - 75,00 reais




Na compra dos 2 dvds você ganha um desconto de 10 reais. O valor sairia:


Valor total - 65,00 reais
Para fora do Brasil entre em contato: marcos.dupra@globo.com






terça-feira, 28 de abril de 2009

Ajude o Baba de Cobra a participar do Garagem do Faustão

Olá Galera do blog gostaria de pedir a todos para votarem no video da minha banda o Baba de Cobra tivemos o video selecionado para o Garagem do Faustão quanto mais gente votar mais chances temos de ter o nosso video apresentado no programa...para votar é bem simples basta você acessar o link abaixo e clicar em cima da última estrela isso vai nos ajudar bastante...abs

para votar é só acessar o link abaixo

http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM1003744-7822-BABA+DE+COBRA+BABA+DE+COBRA,00.html

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A melodia e suas mudanças durante a História

Falar sobre a melodia é falar sobre a matemática da criação de uma escala. É óbvio que a melodia é o exercício pessoal e criativo de cada um, mas analisando friamente nada mais é do que a arte de recompor uma escala proposta.

Quando Pitágoras criou a escala cromática ele praticamente criou a música ocidental como a conhecemos. Não vou entrar em todas as questões matemáticas pra criação da escala cromática mas a idéia básica seria que através de uma determinada fração ele foi encontrando as quintas de cada nota e depois de um certo período ele obteve as doze notas conhecidas. Seria o famoso ciclo das quintas veja o exemplo abaixo:

C, G, D, A, E, B, F#, C#, Ab, Eb, Bb, F, C.

Dessa maneira ele percebeu que poderia dividir uma oitava em doze partes através de uma fração e a partir disso encontrou as doze notas como as conhecemos.

Dó, dó# ou réb, ré, ré# ou mib, mi, fá, fá# ou solb, sol, sol# ou láb, lá, lá# ou sib, si, dó

A escala proposta por Pitágoras não teve muitas alterações até a Idade Média quando começaram a tentar uma solução para o que se chamava de coma pitagórico. A maneira que Pitágoras havia determinado sua escala tinha alguns problemas depois de um determinado numero de oitavas a distância entre a nota de C e a nota sol era tão pequena que se tornava inviável para o músico.

A solução encontrada foi o que se chamou de escala temperada ao invés de se achar as notas através de fração se determinou um logaritmo que fazia que depois de doze notas a oitava sempre estaria no mesmo lugar.

Outra curiosidade até então havia uma diferença muito pequena entre os sustenidos e os bemóis, por exemplo:

A primeira nota seria o Dó, depois o Ré bemol, depois o Dó sustenido e finalmente o Ré.

Com a escala temperada determinou-se que a nota Dó sustenido e Ré bemol seriam a mesma nota.Eu estou explicando de uma maneira simplificada para não ter que entrar em todos os méritos da questão.

Com tudo isso a escala maior ficou da seguinte forma:

Dó, sobe um tom, ré, um tom, mi, meio tom, fá, um tom, sol, um tom, lá, um tom, si, meio tom, dó.

A escala menor seria a mesma escala só que começando pela sexta nota e ficaria da seguinte forma:

Lá, sobe um tom, si, meio tom, dó, um tom, ré, um tom, mi, meio tom, fá, um tom, sol, um tom, lá.

Já com Beethoven começou-se a fazer experiências modais com a escala, ou seja, formar novas melodias com os outros modos da escala que não fossem apenas a escala maior que seria o modo jônio e a escala menor que seria o modo eólio.

Com isso as possibilidades melódicas se ampliaram com os famosos modos gregos:

Jõnio do ré mi fa sol lá si dó
Dório ré mi fa sol lá si dó ré
Frigio mi fa sol lá si dó ré mi
Lídio fa sol lá si dó ré mi fá
Mixolidio sol lá si dó ré mi fá sol
Eólio lá si dó ré mi fá sol lá
Lócrio si dó ré mi fá sol lá si

um bom link para pesquisa é esse aqui

http://www.jazzbossa.com/sabatella/05.02.harmoniadaescalamaior.html

No Romantismo as diversas manifestações folclóricas trouxeram novas possibilidades melódicas, como por exemplo, a escala menor harmônica que já era bem conhecida mas começou a ser muito mais explorada.

Escala menor harmônica

lá si dó ré mi fá sol# lá

Com Debussy veio a escala de Tons inteiros que era uma escala como dizia o próprio formada apenas pela distãncia de um tom. Era uma escala formada apenas por seis notas e com apenas com duas possibilidades já que ela é sempre igual.

Do ré mi fa# sol# lá# dó

Dó# Ré # Fá Sola lá si do#


Finalmente com o advento da modernidade varias novas possibilidades melódicas começaram a ser exploradas ,como por exemplo a micro tonalidade, o dodecafonismo, as escalas exóticas, etc...

Na India a quantidade de notas por uma oitava é bem superior a do ocidente através dessa idéia Messiaen passou a explorar o que ele chamava de microtonalidade, ou seja, entre dó e dó# sustenidos existem outras notas que podem ser exploradas e que contém portanto inúmeras possibilidades melódicas que a escala pitagórica limitava.

O caminho encontrado por Schoenberg foi bem diferente ao invés de limitar o uso da escala apenas à um determinado padrão, como por exemplo é a escala maior, ele criou um processo chamado dodecafonismo onde através de regras extremamente rígidas era possível trabalhar com as doze notas da escala temperada sem que uma nota fosse a tonalidade dominante.

Simplificando tudo que foi dito o interessante da ferramenta escala é que ela não precisa ser apenas as convencionais e que podemos criar e recriar escalas ao nosso bel prazer tudo é uma questão de como desejamos que fique a nossa melodia.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Carlos Careqa - Vulgarizando o Raro e Rareando o Vulgo



Nascido em Lauro Muller (SC), Carlos de Souza passou infância e juventude no Paraná, onde estudou música a teatro, antes de radicar-se em São Paulo. Foi o responsável por várias trilhas para peças de teatro e trabalhou como ator em peças e filmes de cinema. Sua atuação no mercado publicitário, desde 1986, também é relevante, já tendo feito mais de 80 peças comerciais. No início da década de 90 apresentou-se em bares e casas noturnas de Genebra e Berlim. Em seguida atuou no grupo Pêlo Público, em São Paulo. Radicado em São Paulo desde 1991. Lançou 4 CDS PELO PÚBLICO (Thanx God/Tratore) Lançado em 2006, com a participação do Cantor Falcão. Contem canções realizadas nos anos 90 com o grupo Pelo Público em São Paulo. Gravado ao vivo no Teatro do Sesc Ipiranga, com a participação posterior de Mario Manga. NÃO SOU FILHO DE NINGUÉM, (Thanx God/TRATORE), lançado em 2004 traz uma variedade de ritmos e propostas musicais. Produzido por Marcos Vaz, Mario Manga, Gabriel Levy, André Abujamra e pelo próprio Carlos Careqa, mistura timbres e provoca o ouvinte a uma reflexão da atualidade. Com participações de grandes nomes como Chico César, Zeca Baleiro, Vânia Abreu, Jards Macalé, André Abujamra e Edson Cordeiro. MÚSICA PARA FINAL DE SÉCULO, (Thanx God/TRATORE) disco lançado em 1999, que contém canções que foram gravadas por Rita RIbeiro, Vania Abreu, Selma Carvalho, Zé Guilherme, Adriana Maciel, entre outros. Foi indicado por David Byrne como um dos melhores discos do ano de 1999.


Porque compor música?

Eu faço canção. Sou um cancionista, como diz o Luiz Tatit. Gosto de fazer canção, pois é um jeito de expressar uma idéia, naqueles fatídicos 4 ou 5 minutos.

Sei que você já teve várias parcerias queria saber se você acha mais fácil ou mais difícil trabalhar com parceiros? O quanto a parceria interfere na sua idéia original?

Eu sempre trabalhei com parceiros. aprendi muito com eles. Dependendo do parceiro fica fácil trabalhar, e se fica difícil, eu já desisto logo, pois depois de alguns anos a gente vai aprendendo a escolher o que é melhor pra gente. Cada caso é um caso. As vezes o parceiro interfere na idéia original, as vezes não...

Qual foi a primeira vez que percebeu que a música fazia parte de você?

Eu era criança e ouvia rádio. Acho que naquela época eu só ouvia rádio, e Roberto Carlos estava presente o tempo todo. Então eu ficava brincando de imitar o RC. Depois fui cantar em programas de calouros em Curitiba, e assim percebi que a música fazia parte de minha vida, apesar de nunca ter pensado, nesta época em ser profissional.

Como foi a sua experiência ao tocar pela primeira vez nos Estados Unidos?

Eu fui para os USA, para batalhar a vida mesmo, pois aqui a coisa estava muito ruim. Nem pensei que eu ia trabalhar com música lá. Mas levei o violão e um repertório de MPB. Chegando lá fiz amigos e fui indicado para tocar num restaurante, nunca tinha tocado profissionalmente aqui no Brasil, isto aconteceu em Fevereiro de 1984.

Você se considera um cosmopolita? Ou qualquer tipo de “ista” ou “ita” te incomoda?

Não penso neste assunto. Eu sou um ser humano, e posso viver em qualquer lugar que eu queira, eu acho. O homem tem esta capacidade de se acostumar a tudo.

Quando e como foi o seu primeiro encontro com Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção? No que esse encontro influenciou o seu trabalho?

Eu escutei o Arrigo pela primeira vez em 1982, fiquei pirado. O som dele era muito inovador para aquele momento.
Depois conheci também o Itamar, fiquei muito feliz pois era isso que eu procurava fazer naquele momento. Um som inovador para a música brasileira.
Depois conheci o Arrigo pessoalmente em 1990, em Curitiba, quando abri um show dele. Ficamos amigos, e ele me ajudou a realizar o meu primeiro disco.

A experiência do seminário trouxe uma influência em suas composições? Parece-me que o seu trabalho tem particularidades dessa experiência?

Bem, foi no seminário que eu tive minhas primeiras aulas de música. Também pude exercitar lá o meu lado cantor, já que cantava nas missas e até dirigia os cantos litúrgicos. Aprendi a tocar violão no Seminário com 15 anos... Depois tive experiência com o conjunto que tocava músicas seculares, eu era o guitarra base...
Algumas canções tem alguma relação com esta época sim, mas não saberia dizer qual.

Há em algumas de suas canções uma vaga lembrança da música caipira, mas ao mesmo tempo ela tem fortes elementos urbanos. Você concorda com isso?

Sim, eu tenho um lado caipira, herdado do meu pai. Talvez minha mãe cantasse músicas caipiras, eu ouvia. Gosto muito de ouvir estas músicas nas vozes das duplas tradicionais da música caipira brasileira.

É difícil compor uma letra como Cidade do disco os homens são todos iguais? È curioso como a música começa com um canto religioso típico de uma cidade de interior e de repente entramos no mundo da cidade e da uniformidade? Acabei rimando com a letra da música...rssss....

Bem esta letra é do meu amigo Milton Karam, ele me deu esta letra em 1984 para que eu musicasse. Eu fiquei feliz, pois a letra tinha muito sentido, principalmente na Curitiba daquela época. A gente estava vendo a cidade se transformar. A idéia do canto religioso é do Chico Mello, gravamos na novena da igreja do perpétuo socorro em Curitiba. Foi uma experiência muito legal. Hoje quando escuto esta música fico muito feliz com o resultado. O arranjo do Chico lembra um pouco os Tropicalistas...


Em algumas de suas letras há o uso de frases com conotações populares como por exemplo “ muito limão e pouca pinga”, da música “tudo que respira quer comer”, ou em “me da uma colher de chá”, da música “meu querido santo Antonio”. Existe nisso a intenção de aliviar a tensão das letras ou o interesse em reconstruir o sentido dessas frases?

Eu gosto de usar o vulgar. Gosto da frase de Werneck, um poeta Curitibano: VULGARIZAR O RARO E RAREAR O VULGO...
então expressões do dia a dia bem usados numa canção podem servir pra expressar uma idéia.

Na música “Língua de Babel” me parece que você fala sobre o processo de criação e sobre o lugar o comum. Porque orar na língua de Babel?
Acho que fizemos a canção para "explicar" o processo de criação. Orar na língua de babel é uma utopia, falar em todas as línguas. Também é uma canção de amor, mas talvez não o amor romântico e sim o amor universal. Uma canção que agasalhe você e eu...

Em “Ser igual é legal”, do disco “musica para final do século” , há uma critica a necessidade da nossa sociedade da vitória e do sucesso gostaria que você comentasse um pouco sobre a música e sobre esse assunto?

Esta canção é exatamente sobre isso. Foi inspirada no Livro do Tao. Todos querem ser o primeiro, só que não existe muitos primeiros lugares. Por quê não podemos ser iguais, sem ser medíocres???
O caminho do meio é o mote desta e outras canções que escrevo. Acho ótima esta idéia, ainda que difícil de praticar.



Como funciona o seu processo de criação? A letra vem primeiro ou a música ou ambos?

Geralmente pinta uma idéia de letra, depois a música, as vezes as duas vem juntas. Estou tentando fazer música antes, para mim é mais difícil este processo.

Há um certo amadorismo no compositor hoje em dia?

Acho que há um modismo por assim dizer. Todos querem ser artistas e compositores. Porém nem todos tem algo a dizer, então fica um processo de desabafo simplesmente. Vejo cantoras que estão compondo, O.K., mas elas estão somente exercitando a Vaidade, e não querem dizer nada.

Você acredita em movimentos musicais ou os movimentos musicais são mais um reflexo do momento?

Acho que movimento é super importante, a gente está sempre em movimento. Os movimentos musicais existem sim, mas nunca de cima pra baixo. Ninguém se reúne numa sala e diz Vamos fazer a Bossa Nova!!! Estas coisas acontecem naturalmente, como aconteceu realmente com a Bossa Nova. São idéias que vão se aglutinando e formando um movimento global.


Uma vez vi uma entrevista do B.B. King em que ele dizia que no começo de sua carreira ele ia nos bares onde os arranjadores freqüentavam e pagava algumas bebidas e eles faziam os arranjos de suas músicas.Há muito tempo a indústria americana passou a valorizar a figura do arranjador.Como funciona os arranjos de sua música? È você mesmo quem faz ou transfere isso pra outros?

Eu sempre trabalhei com músicos ótimos. Então fazemos muitas coisas juntos. Eu dou idéias e eles aprimoram. Alguns arranjos são feitos isoladamente pelo arranjador, mas não gosto muito deste processo. Eu gosto de interferir. Quando tocamos juntos, os músicos colaboram com improvisos e isto soma-se ao arranjo.

È difícil viver de música autoral no Brasil. Eu sempre ouço que a música brasileira é a melhor do mundo. Mas me parece que há uma formação muito deficiente do ouvinte brasileiro e que ele não sabe diferenciar o joio do trigo. O que você acha? O que deveria ser feito?

Primeiro, deveria-se pagar os direitos autorais. Muitas emissoras não pagam direitos. Casas noturnas, bares, restaurantes também não pagam. Acaba recebendo grana quem investe em Jabá, para fazer tocar em rádios que estão em conluio com Editoras e Gravadoras...
Eu não estou na industria fonográfica. Mas ouço falar que a coisa funciona deste jeito.


São Paulo e Rio de Janeiro são a ilusão do compositor?

Acho que sim. Aqui em SP as coisas funcionam melhor do que em outros estados. Há uma vontade de Profissionalizar o meio. Mas as outras capitais estão se organizando também. Agora existe Sociedades de Direitos Autorais espalhadas por todo o Brasil, antes não existia, só havia no Rio e em São Paulo.

Quando eu era garoto e gravei pela primeira vez em 1988 eu gravei num estúdio uma demo tape que morreu comigo, pois não havia recursos para divulgar o trabalho... hoje temos a internet e qualquer um pode tentar divulgar seu trabalho e ter até que bons resultados...Quais os males e benefícios da internet na divulgação do compositor?

Você deveria recuperar este Tape e colocar no Ar.
Acho bem legal estes meios, mas acho que ainda estamos divulgando somente para nós mesmos. Pois a grande massa não ouve música na internet. Eles ainda ouvem na Rádio, Tv ou Som. Claro que fenômenos existem nesta área, eu mesmo uso estas ferramentas, mas não é tudo. Acho muito democrático saber que posso concorrer de igual pra igual com os Tubarões da industria.

Você acha que o Estado atrapalha ao patrocinar artistas? Por quê?

Acho exagerado o patrocínio do Estado. Acho que música popular tem que ser comercial. Muita gente pede apoio do estado para gravar disco e morre na praia. Não consegue vender os próprios discos. Tenho uma música no disco novo que fala disso. Por quê?
Deveria existir um controle maior destes patrocínios. Os meus discos eu gravei até hoje, somente com grana própria, advinda de shows e venda de discos.È muito fácil dizer que música não dá dinheiro. Por isso o Estado deve patrocinar. Eu sou a favor do caminho do meio. Tem que haver um certo equilíbrio.

A artista deve ir onde o povo está ou você concorda com a frase de Spinoza que dizia que a paixão do povo não o comove?

O artista deve fazer o que lhe der na "telha". Não penso nos outros quando estou fazendo música. Penso em idéias. E se estas idéias atingirem alguém fico feliz.
Mais uma vez acho que o caminho do meio é a resposta para esta pergunta.


Para conhecer O trabalho de Carlos Careqa é só acessar:



www.carloscareqa.com.br
www.myspace.com/carloscareqa

segunda-feira, 23 de março de 2009

Ozias Stafuzza (O Zi) e a música impopular brasileira



Quais as suas influências?

Minha primeira influência foi o rádio, que desde os 4 anos de idade me encantava. Era um veículo que , na década de 70, era bem diversificado, tocando compositores e cantores diversos, da música brega derivada da jovem guarda, samba de raiz, o samba mais simples, a mpb mais sofisticada, o rock, a música caipira...Poderia dizer que minhas influências se ramificam em uns oito caminhos: Beatles e grupos de rock da década de 60 e 70, a MPB dos grandes inventores (Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Djavan, entre outros), o Clube da Esquina (Lô Borges, Toninho Horta, Beto Guedes, Milton Nascimento, O Terço, etc...), a Música Caipira, Regional e o Folclore rico de ritmos (Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho,Luiz Gonzaga, maracatu, bumba meu boi, jongo, etc.), o Samba nas regras da arte (Cartola, Noel Rosa, Paulinho da Viola,Zé Ketti, Assis Valente, Nelson Cavaquinho...), Pontos de fusão que ao longo do tempo se fez entre Mpb , Pop e Rock (Mutantes, Raul Seixas, Sérgio Sampaio,Cazuza, Lobão, Zeca Baleiro, Chico César...) Experimentos poéticos e de Vanguarda (Walter Franco, Arnaldo Antunes, Rumo e Ná Ozzetti, Itamar Assumpção...) e a Bossa-nova (Tom Jobim, Vinícius, ...)


Qual a sua formação musical?

Não tive uma formação musical em escolas. Aprendi sozinho violão, somente pra poder me acompanhar, porque o que eu gostava mesmo era de cantar e compor.No fim das contas,na década de 90, após uns 5 anos sem me apresentar, só trabalhando em outras áreas e compondo em casa, voltei à ativa mais como violonista acompanhante de cantoras como Aurora Maciel e A Quatro Vozes, e fundei o Cantilena com o Wellington de Faria e Adriana de Oliveira, pra cantarmos nossas parcerias.



Como você enxerga a música atual?Quais os aspectos positivos e negativos?

A gente pode pensar de duas formas essa questão. Uma é a produção atual como um todo,que ainda é muito rica, apesar da falta de espaços pro trabalho artístico ser mostrado. Nas viagens que fiz com grupos musicais por outras cidades e estados, pude constatar que toda cidade tem uma produção grande, que fica escondida, represada, e bons compositores e intérpretes que merecem ser mostrados. Outra forma é pensar a música que é veiculada, comercializada, que aparece,que em sua essência é de qualidade muito ruim, porque boa parte desta produção é pensada e vendida como produto, que tende a ser logo descartável. O aspecto negativo é que só predomina um ou outro estilo monopolizado como moda, que poderia coexistir com esta produção boa, mas o que não aparece na mídia simplesmente não existe pra maioria das pessoas.


Como a mídia influencia o trabalho de um compositor?

Primeiramente, posso dizer que até uns 20 anos atrás, quando o jabaculê nas rádios e tevês era mais discreto, a mídia influenciava trazendo novos elementos, tanto de fora, quanto daqui, de outros estados, que o compositor acabava incorporando no seu trabalho. No entanto, com esta ditadura do marketing que se instalou nas gravadoras multinacionais, e imprimiu uma música de baixíssima qualidade dos anos 90 pra cá, com a máfia que domina os veículos de comunicação, a mídia influenciou trazendo o desalento, porque o que tem alguma qualidade dificilmente tocará em rádio ou TV.

Por fim, a Internet veio, senão como redentora, ao menos pra tentar democratizar o acesso à informação e à cultura, e esta sim, trouxe novidades, aquele frescor de se conhecer um pouco da produção brasileira e mundial.


Você compara o seu trabalho de compositor como ao de um inventor ou ao de um jornalista?Ou enxerga de uma maneira completamente diferente?

Eu vejo o compositor como um inventor, sim, talvez como um ourives, como aquele que lapida o material pra transformar em algo belo ou provocativo. Poderia dizer que , nestes tempos de religiões conservadoras se expandindo, que ele é o demônio, no sentido do diferente, que vem incomodar, trazer o novo, o reprimido, a vergonha, o medo, e até o amor civilizado ou selvagem. Não vejo muita analogia com o jornalista, porque hoje em dia, jornalista que se preza, e não lambe as botas do patrão, não está empregado em jornalões , tablóides fascistas semanais ou redes de televisão, ou seja, não compactua com a mídia gorda. Aquela figura do jornalista que denuncia (e não inventa o fato pra cumprir a meta do editor e do empresário de mídia), questiona, e mantém a capacidade de indignação diante de um mundo desigual não está mais em evidência, apesar de suspeitar que é a grande maioria ainda. Neste sentido podemos ver semelhança. O compositor pode e deve também expressar sua indignação, levar a arte para conscientização se assim sentir necessário, mas não precisa se restringir a este papel. Num mundo mais culto , não só o conteúdo,mas a forma em si já pode ser uma forma de questionamento ou desestabilização do status quo.


Tudo já foi criado?

Acredito que sempre há algo novo pra ser reprocessado, misturado, dito, cantado

. Mas sempre carregará vestígios do que se ouviu, viu... Mesmo os compositores mais importantes de MPB, pop, rock, samba, etc..., sempre mesclaram influências, estilos, e nada realmente inédito, sem influência alguma, pode aparecer.


Quem vem primeiro pra você a letra ou a música?Você mesmo é quem faz os arranjos?

Na grande maioria das minhas composições, a letra vem antes. A partir dela, vou sentir que música cabe ou pode transmitir melhor o que escrevi. Há casos felizes de pedaços de letras que vieram com a música instantaneamente, mas é mais raro, talvez umas 5 dentre 160 canções. Quanto aos arranjos, eu mesmo faço a maior parte.


Você gosta de parcerias?

Apesar de 70% das minhas canções terem letra e música minhas, de 15 anos pra cá, comecei a compor em parcerias com mais freqüência, quando conheci o Wellington de Faria, e fundamos o Cantilena. Foi muito interessante, porque algumas letras que eu não imaginava como musicar e se isto seria possível, o Wellington descobria alguma forma de virar canção e daí surgiram umas 40 composições. De uns 6 anos pra cá , tive o prazer de descobrir outros parceiros pra musicar minhas letras, como Wimer Bottura, Cássio Gava,Mário Montaut, Roberto Gava. Há outros , em que excepcionalmente coloquei letra depois de me mandarem a música, como o Brau Mendonça, o José Paulo Ciscato, ou novas parcerias em que musiquei poemas ou letras, como Etel Frota e William de Faria. É sempre uma surpresa muito boa, inimaginável o resultado da co-criação, e tenho sido muito feliz em encontrar estes amigos, mantendo a porta aberta pra novos parceiros musicais.


A música brasileira ainda é a melhor do mundo?

Quincy Jones afirmou que é a melhor. Se não é a melhor, é uma das mais ricas em profusão de ritmos, melodias, e influências que captou. Na sua gênese, da matriz africana, da modinha européia, e posteriormente da música latino-americana, caribenha, inglesa e americana principalmente. Por isso, não é possível admitir que ela tenha mais espaço no exterior, seja elogiada, ouvida, amada por lá e aqui seja relegada a espaços cada vez mais escassos, pela elite econômica, que de maneira burra, não valoriza um acervo tão rico e multifacetado, inclusive pra poder virar produto de exportação.



A eletrônica pode ser usada como ferramenta para a criação?

Por certo, desde o Kraftwerk, a música mundial não passou ilesa. Acho que em doses bem pensadas, a mistura com a música brasileira pode ser muito feliz. Não são todas experiências que me atraem. Gosto muito do que o Loop B faz.


O artista deve ser financiado pelo Estado ou a independência ainda é o melhor caminho?

O Estado deve promover a cultura e a matriz histórica da música brasileira, seja patrocinando trabalhos , seja fomentando a formação cultural, no sentido de reverter esta tendência de se ouvir só o que se toca comercialmente na mídia. Há que se fazer uma revisão destas leis de fomento, como parece que está em andamento, pra não se privilegiar sempre os mesmos grupos de produtores, cineastas, músicos, grupos teatrais que se apoderaram deste nicho, seja pela rede de contatos que possuem ou pelo espaço já consagrado na mídia. Mas a necessidade de democratizar este acesso é premente.


Num mundo de quantidade em detrimento da qualidade você acha que há um grande despreparo por parte de alguns compositores?

Eu acho que há uma intenção clara, dos compositores que estão em evidência e tocam no rádio, de ganhar dinheiro e fazer uma grande produção de refrãos fáceis. Quanto aos outsiders, a estrada , os shows, são ótimos laboratórios pra aperfeiçoamento de suas composições. Como isto não é possível e são restritos os espaços , com exceção de alguns lugares alternativos, como o clube Caiubi (sediado atualmente no Villagio Café), não há como testar a reação do público, e a obra pode ficar devendo pra qualidade, ou mesmo o compositor perder a motivação pra continuar criando , sem ter um por que.


Qual o futuro do compositor de música popular?

É nebuloso, na minha opinião. A seguir como está , a tendência é a música popular brasileira se restringir a guetos, e cada vez ser menos ouvida.Se não conseguirmos reverter, seja pelo agrupamento dos artistas, seja pelo transformação da Internet em principal meio, é imprevisível o futuro da canção. Na minha canção-manifesto M.I.B., Música Impopular Brasileira, eu cito a discussão que o Chico Buarque levantou e complemento: “será o fim da canção ou a canção é o fim?”.


Você compôe constantemente ou há periodos que deixa de compor?

Cada vez componho menos, por conta talvez da desmotivação de compor e não ter pra quem mostrar, e também da falta de tempo ocioso pra deixar fluírem as idéias. Até uma década atrás fazia umas 15, 20 músicas por ano, e nesta entressafra, caí de 5 pra 2 por ano de 2007 pra cá.


Sua música influencia o mundo ou o mundo ao seu redor é que influencia sua música?

Quisera ter uma influência significativa, pois acho que apenas interfere no intercâmbio de idéias entre as pessoas mais próximas. Acho que o mundo influencia muito mais, e ficamos com as antenas ligadas pra digerir , misturar e incorporar o que interessa ou o que pode melhorar a nossa música.


Compor é uma questão individual ou uma proposta coletiva como por exemplo um movimento musical?

Pode ser as duas coisas. Predominantemente acho que é mais individual, mas possibilita que frentes se abram, e com a intersecção de cabeças se rompa alguns parâmetros e a ebulição se faça, chamando a atenção do público para o novo.


Há uma máfia no meio musical?

Acredito que sim, pois além do jabá que corre solto nas rádios e tevês, alguns produtores levam tudo. Seus artistas ocupam mais espaços, fecham muitos shows, mais por causa de sua rede de contatos do que necessariamente pela qualidade do trabalho. O volume de produção é também muito grande e acredito que os programadores de redes como o Sesc nem tem tempo de ouvir o farto material que recebem


Fale sobre a música- manifesto "música impopular brasileira"?

É um desabafo, uma provocação, um vômito em cima da péssima música que toca no rádio. O sucesso é fabricado pelo dinheiro das gravadoras, que determina quem e o que vai tocar. Com isto, a música popular brasileira perdeu completamente o espaço,com este bombardeio da mídia, este mundo de big brother e extrema visibilidade para alguns. As pessoas mais simples imaginam que vários compositores, que tocavam em rádio até 15 anos atrás, não compõem e nem fazem mais shows. Então a música veio como um chacoalhão sarcástico, dizendo que a música popular tornou-se agora a música impopular brasileira e propõe uma guerrilha musical (inspirada no filme Cecil Bem Demente) e denunciar, ocupar espaços, seqüestrar os sentidos, contra a propagação da música sabão-em-pó que monopolizou o espaço midiático e empobreceu a cultura brasileira. A idéia veio ao encontro do livro, que só conheci depois, “Música Impopular” de Julio Medaglia.Ele afirmava em 1970, que a música erudita era a impopular , em contraposição à música popular brasileira; mas que bastava dar oportunidade e aos poucos, veicular música clássica,(as mais fáceis pra se digerir) que a população acabaria gostando, no que acredito piamente. De uns tempos pra cá, a MPB virou a música erudita de antes, e acho que temos este trabalho a fazer , espalhar nossa música pra que a população conheça a riqueza da cultura brasileira e a música impopular volte a ser popular. Neste sentido criamos uma comunidade no Orkut , “Música Impopular Brasileira” pra discutir, trocar informações, se fortalecer frente a concorrência desleal do dinheiro,


Na música "Bizarro" os arranjos remetem a música negra americana mas há um trecho da letra em que você diz : " ...e o que era estranho e bizarro é o natural que cresce e se espalha..." , queria que falasse um pouco sobre essa música..

Esta música se inspira, na parte melódica e harmônica , no soul e na dance music, reverenciando meus ídolos Barry White, Billy Paul, Marvin Gaye, James Brown ,entre outros. Falo da estranheza e de como “o mundo é dos espertos, mas eles também caem e se ralam”. A sociedade atual tornou-se bizarra, o que vale é o consumo, o individualismo, em detrimento da solidariedade e de alguns valores que pensamos ser do Homem, ao longo do tempo.Passar por cima do outro, não enxergar que vive em comunidade, é a coisa mais natural, e ter é o verbo compulsório que tenta preencher o vazio do ser humano. “Dos rosas, carniças, mares, missas, lares, odores de dores exalam..”

Para ouvir o trabalho de Ozias Stafuzza é só acessar:

www.musicaimpopularbrasileira.com.br
www.myspace.com/oziasstafuzza
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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Ricardo Soares - Capitão blue e Cactus Kid




Quando você começou a mexer com música e quando foram as suas primeiras composições?


Eu comecei a tocar violão com 17 anos, em meados dos anos 80. Ficava tirando músicas das revistinhas Violão e Guitarra e depois reunia com os amigos pra cada um mostrar as coisas novas que tinha aprendido. Tinha bastante gente que tocava na minha turma lá em Sapucaia do Sul. Daí a começar a compor foi uma coisa absolutamente natural, tipo "Tá, agora tá na hora de eu começar a fazer algumas músicas" e sair fazendo. A gente montava umas bandas e o material original era bastante valorizado.

Quais as suas influências musicais e qual foi a primeira relação com música que te vem a cabeça?

Meu avô, o Seu Euclides, era violonista, compositor e agitador cultural. Na minha infância viviam rolando festas cheias de música em casa, então a paixão foi uma coisa natural. Já na adolescência eu me identifiquei mais com o pessoal mais irreverente, mais inteligente, de mensagem mais afiada. Na maioria malditos, porque a inteligência pode bem ser uma maldição. À medida que fui aprofundando minha cultura musical, continuei sempre a preferir os loucos, os ditos indomáveis. Minhas maiores referências são Raul Seixas, Arnaldo Baptista, Brian Wilson, Bob Dylan, Leonard Cohen, Serge Gainsbourg, Lee Hazlewood, mas tem bem mais uma dúzia nessa lista. Mas eu também sempre adorei e sempre soube mesmo ver o lado mais louco em caras superpopulares como o rei Roberto e os Bee Gees, por exemplo.

As composições evoluem com o tempo ou o artista é um recipiente do que acontece ao seu redor?
O artista evolui, descobre novas formas, abre mão de velhos caminhos por novos, eventualmente relê aqueles velhos caminhos. O importante é que ele dê, ou pelo menos tente, algo inovador e não simplesmente mais do mesmo.

Você sente que as suas raízes gauchas vieram em suas composições quando você veio para São Paulo? Alías comente um pouco o cenário musical do rio grande do Sul em sua época e hoje?

Eu sou de Sapucaia do Sul, região da Grande Porto Alegre, uma zona urbana. Ainda que a música regional, e muito dela de qualidade, tivesse uma presença relativamente forte, a informação ia muito além. A gente ouvia a Ipanema FM, que foi uma das pioneiras em música alternativa fora do esquemão comercial que ditava a programação das outras FMs e ouvia coisas absurdamente interessantes. Coisas que só não são impensáveis hoje porque com a internet veio uma liberdade cultural absurda. Mas foi preciso uma nova tecnologia pra que isso ocorresse. Dentro daquele velho padrão analógico FM/TV/Cinema/Revista, eu me considero um privilegiado de ter tido a informação que eu tive nos anos mais importantes da minha formação artística. Sobre a cena roqueira gaúcha eu sempre achei que existe um certo descuidado com as letras das canções. A terra dos Veríssimo merecia ter ganho coisas mais inteligentes na forma de letra de canções. Claro que isso não vale pra música gaúcha como um todo, apenas para a turminha do rock n roll. Acho genial os trabalhos de muita gente por lá. Vitor Ramil e Nei Lisboa, por exemplo, pra ficar nos mais conhecidos.

Há na música "Guarde uma prece" um verdadeiro apanhado geral dos problemas modernos me lembrou muito "Ouro de tolo" do Raul aliás você o cita, queria que você comentasse um pouco a música?

"Guarde uma prece" é uma brincadeira à la Bob Dylan, uma canção misturando figuras reais em situações surreais, meio que se chocando com o clima de "Pra frente, Brasil". Raul fez isso muito bem em Super Heróis também. Eu gosto bastante dela e de diversas imagens contidas ali, exorciza algumas coisas do meu passado. É quase uma sessão de psicanálise em forma de canção.

Porque "As aventuras do capitão Blue" e porque a "Balada de cactus Kid' como nome de seus discos?

Brincadeiras pop pra nomes de álbum. Qualquer dia eu lanço um disco com quinze nomes pra gastar esse monte de idéias de nomes pra disco que ficam aparecendo na minha cabeça.

Vejo tanto em Bob Dylan como no Raul, influências citadas por você, um retorno ao trovador medieval aquele homem que viajava de aldeia em aldeia e era a única forma de contato do povo com o mundo. Como você vê essa idéia e qual a função do trovador moderno num mundo de internet e etc...?

Continua sendo a mesma coisa, e vai ser assim sempre. As pessoas continuam se identificando com determinados artistas e o artista continua indo atrás das pessoas que se identifiquem com ele. Isso vale para todos os estilos de música cantada e até além. Pessoas inteligentes se identificam com trovadores inteligentes, pessoas supostamente inteligentes se identificam com trovadores supostamente inteligentes, pessoas altamente emocionais com pagodeiros e sertanejos, adolescentes se identificam com roqueiros ou DJs. O show tem que continuar.

Quem vem primeiro a melodia ou a letra?

No meu processo acontecem juntas, eu preciso ter rascunhos das duas pra poder ir trabalhando a obra. Mesmo nas pouquíssimas parcerias onde eu fui apenas letrista, como "Notícias de Mim" com o Zé Rodrix, eu criava uma melodia fantasma pra poder finalizar o processo e enviar a letra ao parceiro.

Qual a importância do arranjador em seu trabalho?

Eu quero ainda poder trabalhar com outros grandes arranjadores, admiro muito esses profissionais e uma tarde de trabalho com um bom arranjador é uma grande aula, não tem preço. Ter trabalhado com o Zé Rodrix na época dos Tropeçalistas, acompanhado a cabeça do maestro modificando os arranjos sempre atrás de um conceito mais alto, foi simplesmente fantástico. O simples prazer de ouvir um fonograma de qualidade analisando as escolhas do arranjador já faz do ato de ouvir música um nova aventura.

Gosta do trabalho de parceria ou acha difícil trabalhar com um parceiro?

As duas coisas. Como eu tenho facilidade com os dois elementos, letra e música, isso favorece ao processo solitário, que tem suas vantagens. Mas parcerias são necessárias, para novos rumos, novos enfoques e alguma diluição do ego. Sempre saudável.

Gosto muito da música " Eu e Mr. Hide", mas não consegui ouvi -la no site do myspace por isso queria que falasse um pouco sobre essa canção?

É uma das minhas que eu mais gosto, eu consegui um equilíbrio ali que sempre vai me servir de referência na hora de finalizar uma canção. Gosto do tema, gosto da abordagem, gosto das imagens e naquele arranjo do Zé Rodrix para os Tropeçalistas, ficou fantástico. Costumo dizer que a maior influência para essa canção foram os desenhos do Tom & Jerry. Acho fantástica a possibilidade de ser influenciado por desenhos animados ou filmes ou mesmo chefs de cozinha.

Música Nacionalista ou Música internacional ou...?

A arte não tem fronteira, você escolhe a forma de interagir. Se você cantar letras políticas em inglês, a quem você pretende comunicar? Já se você quiser cantar coisas de amor em inglês, djavanês, essas coisas, as possibilidades são outras. Mas ainda assim, são estéticas individuais, tudo pode, tudo vale. Minha preocupação maior é com o padrão artístico final: é bom ou não, comunica ou não, surpreende, faz rir, chorar. A arte política é uma possibilidade. Mas apenas uma delas.

O artista deve ser subvencionado pelo Estado? Ou deve ser independente?

Gosto mais da idéia de um estado cuidando de saúde, educação, moradia, bla bla bla, essas coisas. Até porque ele nunca consegue ser justo nas escolhas de quem ele vai subsidiar, artisticamente falando. E o artista tem que mostrar, mostrar, mostrar. Na verdade são discussões distintas: Se o estado deve bancar a arte ( e existem situações onde o estado realmente tem que comprar arte ) e se o artista deve depender do estado. A mim o estado não parece alternativa. Mas ele pode ser um dos meus clientes, se quiser.

Qual foi a sensação de vencer o Festival da Globo em 2000? Há futuro nos festivais atuais?

Foi um tesão. Numa banda com caras do naipe de Luiz Carlini e Johnny Boy, cantando um rock'n roll honestíssimo e se divertindo horrores? Ser elogiado por caras como João Araújo, Wally Salomão e Renato Ladeira? Sensacional. Mas bem poderia ter sido a pá de cal nos festivais. Não me importaria de ter sido o coveiro. Os tempos são outros e mesmo alguns clássicos da mídia como as telenovelas e o jornal das dez devem estar com os dias contados, da forma como os conhecemos. Os festivais foram os primeiros a envelhecer e perder o sentido. Viva as novas mídias, os blogs, os vídeos virais...

Qual a saída para o artista divulgar seu trabalho?

Tocar, gravar, compor, mostrar, postar na internet, fazer videoclipes baratos, mandar para as pessoas, compor mais e mais e mais e melhor e melhor e melhor e tocar e gravar e postar na internet e....

A técnica musical ajuda o compositor ou é uma ferramenta que atrapalha o criador?

A necessidade da técnica é incontestável. Se aliada à criatividade, o resultado pode ser maravilhoso. Jimmy Page e George Harrison eram donos de grande técnica além de possuirem um visão criativa magistral. Qualquer outro grande gênio com certeza dominava seu instrumento. Mesmo que o instrumento fosse a caneta. Vinícius e Dylan dominavam uma outra técnica, a da palavra e a isso aliavam doses generosas de criatividade. Só não me venha com técnica pura, que daí é datilografia...

Rock n roll ou samba? Porque?

Uma das minhas canções que eu mais gosto se chama "O Sambista Mais Famoso do Delta do Mississippi" e faz uma brincadeira com Robert Johnson e Adoniran Barbosa. Eu também gostaria de saber porque tem que ser um ou outro se você pode ter os dois.

Há uma máfia no meio musical?

Na verdade eu não posso falar sobre isso sob risco de amanhecer com a boca cheia de formigas... Brincadeira, claro. O que eu acredito é que música é um negócio como outro qualquer, e os empresários acabam escolhendo com critérios puramente mercadológicos onde aplicam seu dinheiro, o que faz sentido. E para quem está de fora com um trabalho sabidamente bom e não consegue entrar, vendo um monte de lixo sendo empurrado guela abaixo via televisão e FM, pode até pensar que isso é coisa de mafioso. Acredito que o poder de negociação fale mais alto do que qualidade artística no mercado atual. Mas existem várias outras possibilidades que foram criadas, que eu acho besteira querer hoje em dia fazer sucesso à moda antiga. Chame na chincha, crie coisas novas e divirta-se no processo. Pare de pensar em sentar na poltrona do Jô, descomprometa-se e me traga algo realmente interessante. Redefina o sucesso. É assim que eu acho que funciona.


Para ouvir Ricardo Soares é só acessar http://www.myspace.com/capitaoblue